Isto aconteceu por volta de 1991 na faculdade.
Um determinado computador num laboratório que eu frequentava tinha duas placas de vídeo, sendo que uma era especializada para tratamento de imagens. O monitor dela funcionava na mesma frequência das TVs, ou seja, 60 Hz na vertical e 15750 Hz na horizontal.
Em um dia uma garota que não sabia nada de eletrônica, de como um monitor funcionava etc, (não era culpa dela, pois era no Departamento de Geografia) estava usando este computador, mas eu sabia bem devido meus estudos de eletrônica.
Meu ouvido é (ou era) muito sensível a agudos, exceto o 15750 Hz e vizinhança próxima, pois toda TV faz este apito agudo. Eu escutava, mas não me incomodava.
Ela toda hora resetava o computador, o que fazia o segundo monitor sair de sincronismo na frequência horizontal. Isto me incomodava muito. Eu ficava escutando o barulho agudo fora de frequência certa.
Ela dava boot no computador, chamava o programa, carregava uma imagem, e aí tentava ajustar o monitor, e eu escutando o assovio por este tempo todo.
Aí começava outro martírio meu. Ela não virava o ajuste devagar. Ela ia rapidamente de ponta a ponta, fazendo toda a gama de assovios que aquele oscilador, com a alta tensão do monitor, eram capazes de fazer. E depois de várias tentativas, o comparador de fase do monitor conseguia travar na frequência certa. Mas o oscilador estava ajustado para operar naturalmente em outra frequência, pois dependia de onde ela parasse durante o ajuste.
Eu ainda tinha a certeza, devido aos meus conhecimentos de eletrônica, que ela estava fazendo errado. Isto também me incomodava.
Depois de um tempo de uso ela resetava o computador de novo. E começava tudo de novo. E de novo. E de novo. Etc.
Foram vários ciclos assim. Sei que tem gente que teria surtado, que teria passado bronca nela etc, mas usei outro método.
Em um dos resets que ela deu eu me levantei, fui até o monitor, e comecei a ajustar o monitor de ouvido até que chegasse o mais perto possível da frequência que deveria oscilar, 15750 Hz. Enquanto eu fazia isto ela falou:
- Espere eu colocar uma imagem.
Quando ela colocou a imagem o monitor funcionou direitinho. Em sincronismo. Ela ficou me olhando.
Ela devia estar pensando "Como eu tenho dificuldade de fazer isto com imagem, e ele fez sem imagem no monitor?".
Fiz um sinal do tipo "Ok" com a cabeça, e voltei para o meu canto da sala, onde eu estava trabalhando.
Como vingança, não contei como fiz isto.
Acho que eu tive a vantagem de perceber o que me incomodava, como me incomodava, porque me incomodava, e sabia como resolver. Nem todo mundo tem esta vantagem em muitas situações de incômodo. Acredito que inclusive eu em alguns casos.
Eu já tenho um blog principalmente de fotografia, mas aqui pretendo falar de computação, dando dicas, truques etc. O nome veio do fictício Necronomicon, que pelo que eu li, seria um livro praticamente perdido, com poucos exemplares sobreviventes, e ainda por cima proibido, ensinando uma arte perdida, muito pouco conhecida, chegando a ser muito perigosa. É neste sentido que uso como origem do nome deste blog. Para maiores detalhes, leia o artigo mais antigo publicado.
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